quinta-feira, 19 de maio de 2011

REVIEW do Jornal Estadão sobre "Born This Way"

Lady Gaga assume a sua condição de matriarca pop

 Se o teatro pop protagonizado diariamente por Lady Gaga já deixou dúvidas sobre sua habilidade de produzir um disco à altura de Fame Monster, que se calem os céticos com Born This Way. Disponível desde ontem para streaming no Reino Unido e, lógico, alastrado como fogo em mata seca pelas quebradas da internet, o novo da suprema entidade feminina do pop é uma criação poderosa que deve assegurar sua hegemonia em todas as paradas até, pelo menos, o fim do ano.
As faixas disponíveis até o início da semana, incluindo o contagiante hino gay que dá nome ao disco, indicavam que a cantora teria se acomodado na sombra de Madonna. Mas Born This Way vai além. Trata-se de um tour de force que reafirma sua identidade ao mesmo tempo em que revela seu lado maternal: a decadência kitsch, burlesca e irresistível que a cantora encarna como ninguém está lado a lado a canções que falam aos seus "little monsters", os "losers" que, nas palavras da própria cantora, tem potencial para brilhar mais do que os outros pensam.
Essa alternação entre um objeto de desejo e figura materna é a força motriz de Born This Way, executada impecavelmente por Gaga e seu time de produtores auxiliado por RedOne, um dos responsáveis pela vitalidade de seus primeiros hits.
Vide Government Hooker, que traz de vez as influências eletrônicas do dubstep, com graves destorcidos e texturas ásperas, para o palco pop. O início é gloriosamente cafona, com uma a capela de cabaré que embica em uma batida alucinante, com gemidos, dissonâncias e um refrão ambiguamente alegre. Esse melange dá profundidade estética ao disco, uma mistura ácida que mostra que mesmo sabendo usar o aparatus da indústria com maestria, Gaga vai além de um fantoche de sua gravadora.
A figura da dominatrix sugerida em Government Hooker volta em SchiBe, em que fala em alemão, impulsionada por uma batida que racha como uma chibata de sadomasoquista. É lindo, pois entre as duas há Hair, outro hino sobre a busca de identidade teen.
 Gaga é matriarca de milhões de adolescentes. É um trunfo que a cantora consiga deixar seu "Poker Face", seu vestido de carne e outros adereços bizarros para cuidar de seu rebanho. Este lado mais humano transparece cada vez mais com a progressão do disco, que tem hit atrás de hit, atrás de hit. No final, há até uma balada country, a la Shania Twain, mas nada exagerado. Afinal, ser melosa não faz tanto o tipo dela.
Fonte : O Estadão

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